Atualizado em 17 de fevereiro de 2023 |
Publicado originalmente em 17 de fevereiro de 2023
Você sabia que a prática esportiva pode ajudar na manutenção da qualidade de vida das pessoas com Deficiência (PcDs)? São diversos os benefícios para a saúde física e mental, autonomia, habilidades de socialização e inclusão social¹. Um fator primordial para o melhor aproveitamento dessas atividades é o apoio médico: esse profissional poderá indicar esportes e exercícios com base nas especificidades do paciente e dar orientações adequadas para garantir a sua segurança.
“O esporte é motivador, libera hormônios e substâncias que beneficiam o corpo e a mente, proporciona prazer e alegria”, afirma Aline Giuliani, neuropedagoga e mãe da Iris, diagnosticada com Atrofia Muscular Espinhal (AME) tipo 2. Aline é também fundadora do Instituto Viva Iris, que, de acordo com ela, nasceu da história de sua família e existe para oferecer acolhimento, informação, inclusão e possibilidades para crianças e adolescentes com diagnósticos diversos.
Reunião no Instituto Viva Iris, espaço que proporciona cuidados para pacientes com AME e paralisia cerebral.
Para Aline, o esporte e movimento são importantes para todas as pessoas, independentemente de sua condição: “no Instituto [Viva Iris] acreditamos que precisamos criar oportunidades e possibilidades de vivências ricas em movimento, em experiência”, destacou. “Sabemos que algumas condições não farão nossas crianças serem um dia atletas, mas isso não significa que não podem viver e se divertir”, completou.
Movimento e inspiração
Leandro Oliveira da Silva ou Leandro Kdeira tem AME tipo 3 e relembra que, durante a infância, costumava brincar de carrinho, bolinha de gude e soltava pipa à sua maneira: “eram brincadeiras que a minha limitação física me permitia”, disse. Hoje, é atleta de bocha paralímpica e coordenador do Instituto Barueri Paraolímpico, ONG que oferece oficinas de ballet, jazz e capoeira para crianças e adolescentes, em Barueri (SP).
Leandro Kdeira, que tem AME tipo 3, é atleta de bocha paralímpica.
Ele afirma que o seu objetivo como paratleta é poder desempenhar o máximo do seu potencial: “se isso trará medalhas, não sei, mas é sair de quadra plenamente satisfeito de que realizei o meu melhor”, contou.
Leandro revelou ainda que é torcedor fiel do São Paulo e possui forte relação com o futebol: segundo ele, o esporte acaba fazendo parte de sua identidade cultural desde o nascimento, assim como para parte dos brasileiros. Ao relembrar da Copa do Mundo de 2022, brinca: “Poderia dizer que a minha primeira seleção é o São Paulo e depois o Brasil”, continuou, entre risadas.
O futebol também faz parte da vida do paratleta, que é torcedor do São Paulo.
Autonomia que transforma
Outro fã de carteirinha do futebol é o escritor, sociólogo e palestrante português Ricardo Monis. Ao comentar sobre a presença do esporte em sua vida, disse que sempre gostou de assistir aos jogos e que a prática foi importante para a aproximação com as pessoas à sua volta na infância. Durante essa fase, Monis, que tem AME tipo 2, precisou se adaptar à progressão da doença: “nos primeiros dois anos de vida, eu era como qualquer outra criança, mas não engatinhava”, recordou. A fraqueza muscular é um dos marcos motores do desenvolvimento², fundamentais para detectar os primeiros sinais da AME.
O autor citou que, quando criança, ganhou sua primeira cadeira-de-rodas elétrica: “com mais independência, comecei a explorar outras brincadeiras, mas foi no futebol que me encontrei – era a minha atividade preferida”, complementou. Ao destacar o valor do esporte para PcDs, Ricardo continua: “mesmo não sendo competitiva, a prática esportiva é uma das melhores ferramentas para a criação de bem-estar e para quebrar barreiras entre os seres humanos na nossa integração na sociedade”, destacou.
Ricardo Monis, escritor português e criador do livro “Ricky”, que fala da história de um garoto apaixonado por futebol
Sob o codinome Ricky, Ricardo é a personagem principal de uma série de livros autorais infantis lançada no decorrer de 2022. Com o objetivo de conscientizar a criançada de forma sutil e divertida, o escritor confessou que procurou fornecer ao seu público o que não teve: “foram tantas as aventuras, as experiências que inventei, sem nenhum guia, sem nenhum exemplo. E é isso que quero fornecer a quem precisa: um exemplo”, disse. “Quero dar representatividade. É importante que crianças com AME e outras condições de saúde leiam histórias com personagens com quem se possam identificar”, continuou.
“Quero que todas as crianças acompanhem o Ricky para quando virem alguém como ele não o ignorem, mas o incluam, porque ele tem valor e pode participar de uma maneira ou de outra”, apontou. Ricardo sabe que ainda pode mudar a mentalidade de muitas pessoas com a sua obra: “é esse o meu objetivo com a minha história. Contar a minha, para que outros possam ter as suas”, finalizou.
Ricardo ao lado do seu primo Lucas, inspiração para “Ricky” e parte fundamental da história do autor.
O papel do esporte na vida das pessoas com deficiência
“Nenhuma deficiência deveria ser um limitador”, declarou Aline. A fundadora do Instituto Viva Iris aponta a necessidade de mudar essa visão e de criar estratégias de inclusão no esporte para todas as pessoas. “Muitas pessoas com deficiência são atletas reconhecidamente cheios de capacidades e precisamos que cada vez mais crianças e PcDs tenham oportunidades para desenvolver seus potenciais”, concluiu.
O Instituto conta com equipe interdisciplinar integrada e oferece acompanhamento para pacientes com AME. Além disso, a organização trabalha com grandes projetos de educação e conscientização da sociedade sobre a diversidade, doenças raras e outras condições, com iniciativas culturais, esportivas e sociais. Algumas outras frentes de trabalho incluem os projetos Viva Iris vai à Escola, que trabalha orientação e capacitação profissional para inclusão de crianças com deficiência nas escolas; Aventuras de Titi, projeto literário que leva informação para crianças sobre inclusão e diversidade; e a Corrida da AME, uma das maiores competições de rua da região de Uberlândia/MG, que promove a conscientização sobre a doença.
Em dúvida sobre algum termo desta matéria? Confira o glossário.
Referências Bibliográficas:
1. Ministério do Esporte. A prática de esporte no Brasil – Por que praticar esporte?. Disponível em: <http://arquivo.esporte.gov.br/diesporte/4.html>
2. Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI). Aprenda os Sinais. Aja cedo. Disponível em: <https://sbni.org.br/wp-content/uploads/2019/09/1568137484_livreto_alta.pdf>
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